
Por Nataraj Trinta. Resenha publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional, Seção “Livros”, Edição nº 26, [01 de] Novembro de 2007.
Durante a travessia do Atlântico, de trezentos a quinhentos escravos eram acorrentados em pequenos porões, com um metro e meio de altura, cujas paredes comportavam uma espécie de prateleira de madeira sobre a qual jaziam corpos negros. Aqueles que completavam a viagem, atacados por varíola e outras doenças, também morriam antes mesmo de serem vendidos. A “carga perdida” era habitualmente lançada nua (envolta em esteiras), em lugares sem covas, sem caixões, e coberta apenas por um pouco de terra.
No caso do Rio de Janeiro (fins do século XVIII e início do XIX), o principal cemitério da região para sepultamento dos pretos novos se encontrava na área do Valongo, trecho que vai da Prainha à Gamboa. Hoje, pleno centro da cidade. Segundo o relato do viajante G. F. Freireyss em 1814, “no meio deste espaço [de 50 braças] havia um monte de terra da qual, aqui e acolá, saíam restos de cadáveres descobertos pela chuva que tinha carregado a terra e ainda havia muitos cadáveres no chão que não tinham sido ainda enterrados”.
O cemitério, neste livro, não é pensado, porém, como fim em si mesmo, e sim analisado a partir de múltiplas conexões: sua relação com o tráfico de escravos, a origem geográfica dos sepultados e a vivência dos que testemunharam o tratamento dado aos negros falecidos. Debruçado sobre documentos de arquivo, relatos de viajantes e estudos sobre a cultura da morte nas tradições católica e banto, o pesquisador Júlio César nos traz um trabalho instigante, cujo principal legado é chamar a atenção para uma história ainda pouco pensada: a violência praticada contra os escravos mortos recém-chegados ao Brasil.
[Dados sobre a obra]:
Páginas: 202
Ano: 2007
Editora: Garamond
Preço Encontrado: R$ 32,40.
Ano: 2007
Editora: Garamond
Preço Encontrado: R$ 32,40.
Consulte a versão on-line (parcial) da obra no Google Livros:
http://books.google.com.br/books?id=XUB-9b__kM8C&printsec=frontcover&dq=pretos+novos&source=bl&ots=BR9eUPUKy7&sig=_i0X3y0K2LbNNsapkByom_59s8I&hl=pt-BR&ei=SJldS969I4WruAfr8-DxAg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=7&ved=0CBcQ6AEwBjgo#v=onepage&q=&f=false
Nota: O livro “À flor da terra” foi o vencedor da 1ª edição do Concurso de Monografia do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro intitulado “Prêmio Prof. Afonso Carlos Marques dos Santos”.
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