A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Onde dormem os imigrantes

ESTUDIOSA DE FLORIANÓPOLIS PESQUISA 104 CEMITÉRIOS EM 13 CIDADES DE SANTA CATARINA

Conservado. No mestrado em arquitetura, na UFSC, Elisiana pesquisou sobre o primeiro cemitério oficial da antiga colônia Dona Francisca. Inaugurado em 1850, em Joinville, é o único tombado na região Sul. Foto disponível em
http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2294521.xml&template=4187.dwt&edition=11111&section=905

Por JÉFERSON LIMA (jeferson.lima@an.com.br) correspondente em Florianópolis (SC). Matéria publicada no jornal A NOTÍCIA, de Joinville (SC), em 16 de novembro de 2008, na edição N° 230, Seção MEMÓRIA.


Se quiser conhecer uma cidade, vá ao seu mercado público. A frase atribuída ao escritor Ernest Hemingway pode ganhar outros desdobramentos. É possível também conhecer a face de uma cultura visitando o seu cemitério. No caso da professora Elisiana Trilha Castro, 33 anos, a visita tem uma finalidade totalmente científica.

A pesquisadora trabalhou com o tema em sua graduação em história, no seu mestrado em arquitetura e prepara-se para seguir estudando o assunto no doutorado. Além dos trabalhos acadêmicos, ela está publicando o livro "Hier Ruht in Gott - Inventário de Cemitérios de Imigrantes Alemães da Região da Grande Florianópolis", pela Editora Nova Letra. A autora pesquisou 104 cemitérios em 13 cidades. "Em 66 deles há alguma ligação com o patrimônio da imigração alemã", diz ela.

Estes vínculos podem ser observados a partir de traços arquitetônicos dos jazigos; em epitáfios alemães; nos nomes e sobrenomes das pessoas sepultadas; e em outros ritos e práticas adotadas pelas comunidades teuto-brasileiras. A escolha pela pesquisa em cemitérios alemães ocorreu pela solicitação à autora, principalmente, de descendentes de alemães.

As informações de cemitérios abandonados e destruídos motivou o projeto, que começou pelo de São Francisco de Assis, no bairro Itacorubi, em Florianópolis, onde há um núcleo da comunidade alemã. Antes de se dedicar aos alemães, o trabalho de Elisiana teve início quando ela descobriu que na cabeceira da ponte Hercílio Luz havia um imenso cemitério, com mais de 30 mil túmulos. Era o primeiro cemitério municipal da Capital, inaugurado em 1841.

Durante a construção da primeira ligação da ilha com o continente, entre 1923 e 1926, os túmulos foram sendo transferidos. A pesquisa foi objeto de seu trabalho de conclusão de curso em história na Udesc. Até 1850, as pessoas eram sepultadas no interior das igrejas. Ou em pequenos cemitérios externos, dedicados geralmente aos mais pobres e negros. A proibição dos sepultamentos no piso e nas paredes das naves católicas ocorreu por um problema de saúde pública causado pela emissão de miasmas pelas paredes provenientes dos mortos.

No mestrado em arquitetura, na UFSC, Elisiana trabalhou sobre identidade, memória e preservação e seu foco foi o primeiro cemitério oficial da antiga colônia Dona Francisca, inaugurado em 1850, em Joinville. Elisiana considera o equipamento da cidade do Norte do Estado um bom exemplo de preservação no Estado. Foi tombado pelo Iphan em 1962 e permanece como o único cemitério tombado na região Sul.

Elisiana Trilha Castro estuda o legado cultural e patrimonial dos cemitérios de imigrantes alemães no Estado.
Foto disponível em
http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2294521.xml&template=4187.dwt&edition=11111&section=905


Já há uma articulação entre o Iphan e o governo do Estado para que outros cemitérios sejam tombados nos próximos anos e sirvam como espaço de visitação ou museu ao ar livre. Elisiana não gosta dessa terminologia, mas salienta que, em outros países, os cemitérios são bastante visitados. "O Père-LaChaise, em Paris, só é mais procurado do que a própria Torre Eiffel", diz ela. É claro que lá a atração é bastante forte por causa das personalidades sepultadas, como é o caso de Edith Piaf, Chopin, Jim Morrison, entre outras.

Sob o ponto de vista de arquitetura funerária, conforme Elisiana, a Itália é imbatível. Entre os cemitérios italianos mais conhecidos estão o Monumentale, de Milão, e o Certosa, de Bolonha. Na América Latina, o exemplo mais célebre é La Recoleta, em Buenos Aires, onde está sepultada Evita Perón. Em Santa Catarina, os restos mortais do poeta simbolista Cruz e Sousa, por exemplo, estão desde 2007 no palácio que leva o seu nome, em Florianópolis, e também tem uma boa visitação.

A pesquisadora lembra que, hoje, as pessoas não são mais veladas em casa e os cortejos fúnebres pelas ruas são raros. "Os cemitérios estão sendo transformados em jardins e não há mais debate sobre a morte", avalia. Quanto à cremação, ela diz respeitar as dinâmicas da sociedade. Elisiana também é membro-fundadora da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (Abec), criada em 2004, na Universidade de São Paulo.

Fonte:http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2294521.xml&template=4187.dwt&edition=11111&section=905

Um comentário:

  1. El periodista y escritor Luis Carandell escribió"para conocer un pueblo es imprescindible conocer su Cementerio",pues allí están su Historia,sus personalidades,Arquitectura,Escultura.
    Un abrazo

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