Por Felipe Augusto de Bernardi Silveira. Fragmento de Artigo publicado nas páginas 44 a 47, da Revista de História da Biblioteca Nacional [versão online: http://www.revistadehistoria.com.br], Nº 64, Ano 6, de [01 de] Janeiro de 2011.
Um artigo no Diário Fluminense de 27 de dezembro de 1825, de um autor que se identificava apenas como “Novo Correspondente”, daria o que falar. Por suas argumentações, o texto parecia ter sido escrito por alguém letrado ou até por um médico, especialmente quando tecia elogios ao governo imperial, por conta de uma sábia decisão tomada naquele ano. O fato é que uma nova lei baixada na ocasião proibia que o interior das igrejas brasileiras continuasse a ser usado como cemitério, cumprindo uma antiga determinação feita por meio de uma Carta Régia de 1801. O artigo seguia com uma saraivada de acusações ao clero e criticava o fato de a Igreja Católica brasileira enterrar seus mortos nas campas, pequenos quadrados de madeira numerados no chão do templo. Era algo que parecia atrasado, pouco civilizado e, principalmente, nocivo à saúde.
As coisas estavam mudando na primeira metade do século XIX. A chegada da família real em 1808 certamente desencadeou uma série de alterações na rotina e nos costumes dos súditos. Civilizar-se estava na ordem do dia, e um dos caminhos para se atingir esse objetivo era por meio do desenvolvimento da medicina. Após a Independência, em 1822, um corpo médico-higienista começou a propor soluções não só para os problemas sanitários do Rio de Janeiro, mas de todo o Império, uma vez que a insalubridade era tida como a causa principal das enfermidades.
Cemitério Novo, em Petrópolis. foto de Pedro Hees (c.1870).[Original Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Coleção Thereza Christina Maria] Na primeira metade do século XIX, os enterros no interior dos templos foram proibidos em várias cidades brasileiras. Imagem disponível em 11/02/2011 no site: http://facadaleitemoca.wordpress.com/2009/06/05/rio-de-janeiro-seculo-xix/
Segundo as teorias médicas da época, o mal era um só: a presença de gases miasmáticos e nocivos no ar que se respirava, produzidos por matéria animal ou vegetal em decomposição. Invisíveis, podiam ser encontrados nas cidades, em locais onde o estrume ficava acumulado, como no meio das ruas, e onde havia água parada ou animais mortos. Mas esses miasmas eram percebidos principalmente nos cemitérios. A tese de doutorado de Manoel Maurício Rebouças, defendida na Faculdade de Paris em 1831, reforçava os argumentos dos higienistas brasileiros. Intitulada “Dissertação sobre as inumações em geral e seus desastrosos resultados”, ela reunia documentos tidos como fidedignos, pois envolviam pessoas de caráter inquestionável, como padres e médicos. O problema estava nas alterações sofridas pelo ar devido a diferentes propriedades que se agregavam a ele, alterando suas características originais. Até mesmo o hálito, a transpiração e os excrementos de um animal eram considerados agentes contaminadores. (...)
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Felipe Augusto de Bernardi Silveira é professor da UFMG e do Colégio Dona Clara. É autor da Dissertação "Entre políticas públicas e tradição: O processo de criação do Campo Santo na cidade de Diamantina (1846-1915)" (UFMG, 2005).
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3493
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