A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sacro sepulcro

Algumas igrejas preservam, ainda hoje, quase dois séculos depois de proibirem o enterro em sua nave, as sepulturas dentro dos próprios templos. Participe deixando sua colaboração.


[Foto de Felipe Augusto de Bernardi Silveira de igreja em Ouro Preto] Imagem disponível em 18/03/2011 no site: http://revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3518


Por Ronaldo Pelli. Artigo publicado em 06/01/2011, na Seção "Observatório", do site oficial da Revista de História da Biblioteca Nacional [http://revistadehistoria.com.br/].



A disputa médio-higienista x parte do clero que gostaria de manter os enterros dentro das igrejas rendeu, ao menos, achados históricos. A discussão engrossou após a lei que proibia que o interior das igrejas brasileiras continuasse a ser usado como cemitério, no início do século XIX, como mostra o artigo de Felipe Augusto de Bernardi Silveira na RHBN n. 64, edição de janeiro de 2011. Mas algumas igrejas preservam, ainda hoje, quase dois séculos depois, as sepulturas dentro dos próprios templos.


Apesar de não se saber o número exato dessas construções religiosas que ainda continuam com tumbas em suas naves, é comum a lembrança de uma ou outra igreja com essa característica. Como acontece, por exemplo, com as chamadas cidades históricas de Minas. A Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João Del Rey, a Matriz de Santo Antônio, em Tiradentes, ou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, em Ouro Preto, são três das lembradas.


Outras cidades mais antigas, como o Rio, também têm igrejas nessas condições, como a Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, onde fica parte dos restos mortais de Pedro Álvares Cabral. O arquiteto Renato Cymbalista, que já escreveu “Um roteiro pelos territórios da morte em São Paulo” (editado dentro da série “Dez roteiros históricos a pé em São Paulo”, editora Narrativa 1) e também “Cidades dos vivos: arquitetura e atitudes perante a morte nos cemitérios do estado de São Paulo” (editora Annablume), citou algumas paulistanas: “Lembro da igreja do pátio do colégio em São Paulo, que tem a cripta dos jesuítas, construída em meados do século XVIII; do túmulo de Fernão Dias Pais, no Mosteiro de São Bento em São Paulo; da Cripta (moderna) da Catedral da Sé em São Paulo, onde estão sepultados os bispos paulistas; dos jazigos do Mosteiro da Luz em São Paulo, onde recentemente foram encontrados dois corpos mumificados.”


Já a historiadora Vanessa de Castro Sial, que escreveu exatamente sobre a saída dos mortos dos templos, em “Das igrejas ao cemitério: Políticas públicas sobre a morte no Recife do século XIX” (Editora Secretaria de Cultura da Cidade do Recife), lembrou que a prática de colocar seus mortos dentro das igrejas continua, de maneira um pouco diferente. “A pessoa é enterrada em um dos cemitérios da cidade e após o prazo de exumação (que varia de 18 a 36 meses), os familiares compram ossuários nas igrejas para guardar os restos mortais. Geralmente esses ossuários estão localizados nas áreas laterais das igrejas, antigo local onde estavam as catacumbas.


Os ossuários são administrados por irmandades, confrarias ou pela paróquia. Constituem uma importante fonte de renda para as igrejas e agremiações religiosas.” Segundo Vanessa, todas as igrejas antigas de Recife possuem esses ossuários e, em 2001, quando ela fez a pesquisa, os preços desses depósitos ficavam entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil, mais taxas anuais de R$ 50 a R$ 150. “Santa Rita de Cássia possuía 730 ossuários; São José do Ribamar, 930 ossuários; Santíssimo Sacramento de Santo Antonio, 354 ossuários; Igreja de Nossa Senhora do Carmo, 650 ossuários”, conta ela. Como explicou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, os enterros nas igrejas não se encerraram, mas são privilégio das autoridades eclesiásticas. “Os dois últimos casos de sepultamento dentro de igreja [de Recife] foi de Dom Helder Câmara em 1999 na Igreja da Sé em Olinda e Frei Damião em 2007 na capela de N. S. das Graças do Convento de São Felix (bairro do Pina, Recife)”, lembrou Vanessa.


Em Vitória ainda se conserva, no atual Palácio Anchieta, sede do governo do estado do Espírito Santo, recentemente restaurado, uma lápide que é um mosaico em mármore negro e branco de Carrara e que veio de Portugal no início do século XVII. Ela marcava o local da sepultura do jesuíta José de Anchieta, que morreu em 1597, no lugar onde existiu a Igreja de São Thiago do Colégio dos Jesuítas da antiga Capitania do Espírito Santo (Rogério Piva). Foto Sagrilo, 2010. Imagem disponível em 18/03/2011 no site: http://www.mauricioprates.com.br/mauricioprates.asp?secao=coluna&datacadastro=15/08/2010&id=1728


Colabore com essa reportagem deixando nos comentários o nome e a localização das igrejas que ainda contém sepulturas em suas naves.


Fonte: http://revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=3518

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