A morte nos faz cair em seu alçapão, / É uma mão que nos agarra / E nunca mais nos solta. / A morte para todos faz capa escura, / E faz da terra uma toalha; / Sem distinção ela nos serve, / Põe os segredos a descoberto, / A morte liberta o escravo, / A morte submete rei e papa / E paga a cada um seu salário, / E devolve ao pobre o que ele perde / E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII. São Paulo : Ateliê Editorial / Editora Imaginário, 1996. 50, vv. 361-372)

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Cemitério nas Caraíbas com lápides de portugueses em risco

Espaço data de meados do século XVII e reúne lápides de judeus que fugiram da Inquisição em Portugal e Espanha

A réplica de uma lápide do cemitério de judeus portugueses de Curaçao, nas Antilhas Holandesas, exposta no museu da Sinagoga Mikvé Israel-Emanuel, conhecida oficialmente como United Netherlands Portuguese Congregation Mikvé Israel-Emanuel, testemunha a presença inequivoca dos nossos e da nossa língua naquelas paragens. Datada da primeira metade do século XVIII, a lápide encontra-se quase integralmente escrita em português, com excepção da inscrição cimeira, em hebraico, que cita o Livro de Ester: “E Mordecai compareceu perante o Rei”. No resto da lápide pode ler-se: “Do bem-aventurado e insigne varão Mordecai Hisquiau Namias de Crasto benquisto do geral e procurador da paz. Faleceu em 13 de Yiar do ano 5476 [5 de Maio de 1716]. Sua alma goze da glória.” Published by Nuno Guerreiro Josué at 8/2/2007 in Judeus Portugueses. Fotos gentilmente cedidas por Francisco Duarte Azevedo. Texto e imagem disponíveis no site: http://ruadajudiaria.com/?p=562 em 30/11/2012.

  
Por: tvi24 / CM. Artigo publicado na seção SOCIEDADE do site: http://www.tvi24.iol.pt em 2012-11-26 17:27.


Um dos mais antigos cemitérios judaicos das Américas, Beth Haim, na ilha de Curaçao, nas Caraíbas, onde vários portugueses foram enterrados no passado, corre o risco de desaparecer devido a deteriorações e abandono.

O cemitério, que data de meados do século XVII, reúne lápides de judeus que fugiram da Inquisição em Portugal e Espanha, inicialmente para Amsterdão e depois para a pequena ilha das Caraíbas, então colónia holandesa, situada a norte da Venezuela.

Curaçao ou Curaçau, também conhecida em Portugal como ilha da Curação, é a maior ilha do antigo arquipélago das Antilhas Neerlandesas e um país autônomo constituinte do Reino dos Países Baixos. Mapa e texto disponíveis no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cura%C3%A7ao em 30/11/2012.


O motivo da deterioração, segundo especialistas ouvidos pela agência AP, resulta da proximidade com o mar e da poluição produzida pela refinaria instalada próxima ao local.

«A erosão constante, provavelmente intensificada pela proximidade da refinaria, é considerada agora incontrolável», afirmou Rene Maduro, presidente da Sinagoga Mikve Israel-Emanuel, responsável pelo cemitério.

Outras atrações turísticas de Curaçao são (...), a sinagoga Mikve Israel Emanuel (a mais antiga do mundo ocidental) e o cemitério Beth Hayam, o mais antigo do hemisfério Sul, que possui lápides gravadas em português e em hebraico. Texto e imagem disponível no site: http://www.aproximaviagem.pt/html/n9/11_curacao.html em 30/11/2012.

Maduro acrescentou que a degradação «está para além do ponto de restauração».

A congregação de Curaçao pondera, por isso, tentar preservar o cemitério de maneira eletrónica, com a criação de registos virtuais e fotos.

Réplicas de lápides do cemitério de judeus portugueses de Curaçao, nas Antilhas Holandesas, expostas no museu da Sinagoga Mikvé Israel-Emanuel.Texto e imagem disponíveis no site: http://ruadajudiaria.com/?p=562 em 30/11/2012.


Estima-se que mais de 5.000 pessoas estejam enterradas no cemitério, cuja inscrição mais antiga data de 1668.

Fonte: http://www.tvi24.iol.pt/503/sociedade/cemiterio-curacao-caraibas-judeus-cemiterio-de-portugueses-tvi24/1396436-4071.html

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Os cemitérios são lugares com grande importância artística - escultura e arquitectura – histórica e social

Escultura feminina em pedra no túmulo de Mademoiselle Alix Lesgards (1871-1919)  no "Cemitério dos Prazeres" de Lisboa (Portugal). Foto: Jorge Lima Alves, 05/12/2011. Imagem disponível em: http://jorgelimaalves.blogspot.com.br/2011/12/cemiterio-dos-prazeres-ontem.html


Por FS / RS publicado às 01:38 de terça-feira, 30 agosto 2011, no "diáriOnline" de Algarve (Portugal) http://www.regiao-sul.pt/ 

O turismo tem desde há uns tempos uma nova modalidade, que movimenta já milhares de adeptos por todo o Mundo. É o turismo cemiterial. São lugares com grande importância artística - escultura e arquitectura - histórica e social. Na Europa, a concepção romântica do sec XIX planeou e construiu verdadeiros espaços urbanos e monumentais, com ruas, praças, jardins e monumentos. Esta concepção do espaço, mais destinada aos vivos do que aos mortos, criou razões para os visitantes desfrutarem as obras de arte e o espaço como o fariam em qualquer parque urbano. O turista tipo que visita cemitérios é de formação elevada, e de poder económico superior, o que por si só justifica a aposta na sua requalificação e divulgação.

O interesse por estes espaços sagrados já motivou a realização de congressos e simpósios internacionais (Sevilha 1992 e Wroclaw na Polonia com organização do ICOMOS).

Por outro lado, a curiosidade em visitar a ultima morada de cidadãos que se notabilizaram nas artes, na literatura ou na política, ainda que os túmulos não tenham qualquer interesse artístico, tem aumentado nos últimos tempos. No fundo, até não é assim tão estranho, uma vez que um dos locais mais visitados do mundo, as Pirâmides do Egipto, não são mais do que gigantescos monumentos funerários, tal como as tão nossas conhecidas Antas. O interesse pelos cemitérios mais tradicionais e menos monumentais também floresceu. Um dos casos exemplares é o do túmulo do cantor Rock Elvis Presley, que morreu em 1977, e que foi sepultado num primeiro momento no cemitério de Forest Hill. No entanto, os problemas resultantes da anormal afluência, entre os quais uma tentativa de roubo do corpo, motivaram a transladação para os jardins da mansão onde viveu, Graceland, no Tennessee. Este local é a segunda residência mais visitada dos EUA depois da Casa Branca.

Um dos cemitérios mais visitados do mundo é o Parisiense Père-Lachaise, onde descansa Jim Morrisson, famosa estrela do grupo Rock “The Doors”. E está bem acompanhado porque tem como vizinhos personalidades como Oscar Wilde, Chopin, Moliere, Balzac, Delacroix, Modigliani, Maria Callas e Edith Piaf, entre muitos outros famosos. Este cemitério, para além de ser um espaço agradável e muito bem localizado com excelente vista sobre a cidade, está organizado já em função da procura turística com mapas, guias de visita e um site com visita virtual, que se aconselha a quem pensava que era impossível passear num cemitério. Paris tem aliás outros cemitérios importantes onde se depositam restos mortais de muitas celebridades como o dos Inválidos (Napoleão Bonaparte) Montmartre (Emile Zola e Degas) Montparnasse (Baudelaire, Beckett e J.P. Sartre) e o fabuloso Panteão (Voltaire e J.J. Rousseau), que só por si justificam uma visita.

Outro dos espaços de morte mais singulares é o Cemitério Nacional de Arlington, nos Estados Unidos da América. Perto de Washington D.C., estão nele enterradas mais de 300 mil pessoas, sobretudo veteranos de todos os cenários de guerra em que os EUA participaram. Alguns dos personagens históricos mais famosos enterrados em Arlington são os astronautas da nave Challenger, o Senador Robert Kennedy e seu irmão, o Presidente John Kennedy. É caracterizado por ser um imenso relvado em que cada tumba é assinalada por apenas uma simples cruz em mármore branco com o nome e as datas de nascimento e de morte do venerado.

A recentemente falecida actriz Elizabeth Taylor foi enterrada no cemitério Forest Lawn em Los Angeles. Neste cemitério, que tem a particularidade de ser privado, encontram-se ainda os não menos famosos Walt Disney e o muito Popular Michael Jackson.

Outro exemplo, este de características extraordinárias, é o Monumental de Milão, uma das principais atracções da cidade. É também visitado anualmente por milhares de turistas. Desenhado pelo Arquitecto Carlo Maciachini, tem uma organização cuidada ao pormenor, de desenho e qualidade artística fora do comum. Tem sectores que separam as diferentes religiões e ritos funerários e um conjunto raro de rica estatuária em pedra e sobretudo bronze, com colossais mausoléus, em estilos que abarcam todos os períodos dos últimos dois séculos. Também alberga personalidades famosas como Giuseppe Verdi, Arturo Toscanini e o próprio arquitecto autor do projecto.

Em Portugal, vários cemitérios estão em vias de serem classificados, nomeadamente o cemitério dos Prazeres, com importantes registos simbólicos maçónicos, estatuária e arquitectura.

Outro aspecto do túmulo de Mademoiselle Alix Lesgards (1871-1919) com sua escultura feminina em pedra no "Cemitério dos Prazeres" de Lisboa (Portugal). Imagem disponível em 15/11/2012 no site: http://jumento.blogspot.com.br/2012/01/umas-no-cravo-e-outras-na-ferradura_19.html .

Fica assim claro que deve haver o maior cuidado na gestão destes importantes espaços, que têm já um valor patrimonial significativo. Infelizmente por cá, neste período de crise em que tudo serve para arranjar uns trocos extra, as notícias relatam vandalizações e roubos de objectos metálicos nos nossos cemitérios, certamente não vigiados. Até nesta matéria andamos atrás de todo o Mundo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Alunos de Ensino Médio fazem aula de campo em antigo cemitério de São Mateus (ES).

Alunos dos terceiros anos do Ensino Médio da Escola Estadual “Dom Daniel Comboni”, localizada em Nova Venécia, quebrando tabus e preconceitos, fizeram uma aula de campo no mais antigo cemitério, em funcionamento, no norte do estado do Espírito Santo.

Foto 01 – Aluna do 3º Ano da EEEM “Dom Daniel Comboni”, observa túmulos e escultura durante aula de campo no Cemitério Central de São Mateus. Foto: Rogério Piva. Data: 27/07/2012.



Por Rogério Frigerio Piva*



Para muitos, cemitérios são locais de tristeza e dor, locais proibidos envoltos em preconceito e misticismo, ou apenas, locais de descarte de cadáveres humanos. Mas não foi com essa visão que alunos das turmas 3º V1 e 3º V2 da EEEM “Dom Daniel Comboni” fizeram sua aula de campo no dia 27 de julho de 2012.

Guiados pelas professoras Ana Paula Gonçalves, de Filosofia, e Charlene Turini, de Geografia, os alunos participaram da aula de campo que integra o Projeto Vale do Cricaré, projeto este, que está sendo executado pelos professores da área de Ciências Humanas da referida escola.

Neste sentido, ao levar os alunos para conhecer locais de referência histórica no município de São Mateus, a professora Ana Paula Gonçalves, destacou uma aula inédita, para os alunos da escola, em um cemitério, tendo como objetivo central “compreender o sentido do significado da própria existência a partir da morte”. Depois de meses de discussões filosóficas sobre o tema morte, os alunos foram a campo para visualizarem a morte por meio do cemitério.

Foto 02 – Alunos caminhando entre os túmulos do Cemitério Central em São Mateus. Foto: Rogério Piva. Data: 27/07/2012.

O local escolhido não poderia ser melhor. O antigo Cemitério Público de São Mateus, hoje mais conhecido como Cemitério Central, surgiu em fins da década de 1850, na cidade de São Mateus, na época, a principal e mais importante do norte da Província do Espírito Santo. É o mais antigo do norte do Espírito Santo ainda em funcionamento.

Tendo sofrido inúmeras reformas e ampliações, sendo a última na gestão do ex-prefeito Roberto Arnizaut Silvares (1955-1959), o cemitério ainda preserva sua estrutura original com capela, muros mortuários, gradil e portão de ferro, além de inúmeros túmulos, lápides e esculturas feitos de mármore de Carrara, na Itália, entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX. Nesta necrópole encontram-se sepultados, importantes personagens históricos do norte do Espírito Santo como, por exemplo, o Major da Guarda Nacional, Antônio Rodrigues da Cunha (1834-1893), que no crepúsculo do Império foi agraciado com o título de Barão de Aymorés. Ele foi um dos mais importantes e ricos fazendeiros da região de São Mateus, responsável pelo início da colonização do atual município de Nova Venécia.

Foto 03 – Vista da parte mais antiga do Cemitério Central, construída no século XIX. Mesmo com as sucessivas ampliações, este setor foi preservado, conservando a estrutura original do cemitério e alguns de seus ricos túmulos de mármore importado. Foto: Rogério Piva. Data: 09/07/2012.

A aula de campo no cemitério contou com a presença do professor de História e historiador Rogério Frigerio Piva, de Nova Venécia e do historiador Eliezer Ortolani Nardoto, de São Mateus, profundos conhecedores da história local e do próprio cemitério. Estes lançaram um desafio para os alunos: encontrar o suposto túmulo do Barão de Aymorés.

Dividindo-se em grupos os alunos percorreram a parte mais antiga do cemitério em busca do que acreditavam ser o mais monumental túmulo ali já erguido, porém, depois de algum tempo sem obter sucesso, o historiador Eliezer Nardoto, lhes mostrou o local de seu repouso final, como lhe foi informado pelo seu bisneto, o saudoso Dr. Eduardo Durão Cunha.

Foto 04 – Alunos, sendo observados pelo historiador Eliezer Nardoto (E) e pela professora Ana Paula Gonçalves (D), tentam descobrir o suposto “túmulo do Barão de Aymorés”. Foto: Rogério Piva. Data: 27/07/2012.

Eliezer Nardoto, explicou que o último desejo do barão seria, ao invés de sete palmos (1,5 metros) de profundidade, como ainda hoje é de costume, que fosse sepultado com quatorze palmos (3 metros), e que o local não fosse marcado, nem sequer com uma pequena lápide, e que fosse localizado entre a área que separava o “cemitério dos ricos do cemitério dos pobres” distinção entre o cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento, a qual pertencia os principais membros da elite local, e o próprio Cemitério Público. Isto surpreendeu aos alunos que acreditam que por ter sido, em vida, um homem muito rico e importante, após sua morte teria sua memória lembrada por monumento majestoso.

Foto 05 – Local apontado pelo historiador Eliezer Nardoto, onde supõe-se que, sob 14 palmos de terra, repousam os restos mortais do Barão de Aymorés no Cemitério Central de São Mateus, desde o seu falecimento em 1893. Segundo seu último desejo nem uma pequena lápide deveria indicar a presença dos seus restos mortais. Foto: Rogério Piva. Data: 09/07/2012.

Guiados pelo historiador Rogério Piva, ainda conheceram outros túmulos de grandes fazendeiros que possuíram terras na região do atual município de Nova Venécia, bem como o túmulo do Dr. Antônio dos Santos Neves (1862-1946), engenheiro, responsável pela criação do Núcleo Colonial de Nova Venécia entre 1890-1895, e que deu este nome ao mesmo, mais tarde transferido ao povoado e depois município.

Foto 06 – O historiador Rogério Piva, identificando lápide no Cemitério Central de São Mateus. Foto: Ana Paula Gonçalves. Data: 27/07/2012.

Por meio da professora de Filosofia, Ana Paula Gonçalves, os alunos ficaram conhecendo a rica simbologia tumular, existente em inúmeros túmulos espalhados pelo cemitério que, além de esculturas, também guardam, em pedra, poesias em forma de sonetos que expressam a saudade dos vivos pelos mortos.

Uma aula de campo rica em Filosofia, História, Geografia, Arquitetura, Artes, Língua Portuguesa, foi o que os alunos do Ensino Médio de Nova Venécia puderam apreciar nesta inusitada visita ao cemitério, que antes de ser um lugar de tristeza e preconceito é um local rico em memória e cultura, como ficou evidente a todos.

Foto 07 – Cemitério também é arte. Escultura de anjo feita em mármore de Carrara no túmulo da D. Victoria Domingues de Moraes Rios (1838-1890) no Cemitério Central de São Mateus. Foto: Rogério Piva. Data: 09/07/2012.

Além do cemitério os alunos tiveram oportunidade de conhecer as ruínas da Igreja Velha, o Museu Diocesano, a Catedral, o centro histórico da Cidade Alta composto pelas praças São Benedito e São Mateus com suas respectivas igrejas, o Museu da Cidade de São Mateus, o sítio histórico do Porto de São Mateus, terminando a aula de campo na antiga fonte chamada de “Biquinha”.

Foto 08 – Para posteridade. Ao final da aula de campo no cemitério, as professoras, os alunos e o historiador Eliezer Nardoto, fazem pose no portão principal do Cemitério Central de São Mateus. Foto: Rogério Piva. Data: 27/07/2012.


*Rogério Frigerio Piva é natural de Nova Venécia, Graduado em História pela UFES, Professor, Historiador. Trabalhou no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, onde ocupou diversos cargos entre 1998-2008. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo – IHGES e da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais – ABEC. Mantém os blogs: Projeto Pip-Nuk (www.projetopipnuk.blogspot.com) sobre a Memória e o Patrimônio Natural e Cultural de Nova Venécia e o COEMETERIUM: Notícias e Estudos Cemiteriais (www.kimitirion.blogspot.com) e Desenvolve pesquisa sobre os antigos e extintos cemitérios no Vale do Rio Cricaré entre o final do século XIX e a 1ª metade do século XX.